domingo, 20 de setembro de 2009

Cazuza


Deixe-os hj com um belo trecho de Cazuza:
" ...você diz: "já foi", eu concordo contigo..
você sai de perto eu penso em suicídio mas no fundo eu nem ligoo Você sempre volta com as mesmas notícias Eu queria ter uma bomba, um flit paralisante qualquer para poder me livrar do prático efeito Das tuas frases feitas Das tuas noites perfeitas... "

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Graciliano Ramos - Angústia


Recomendo!

Nunca presto atenção às coisas, não sei para que diabo
quero olhos. Trancado num quarto, sapecando as pestanas
em cima de um livro, como sou vaidoso, como sou besta!
Caminhei tanto e o que fiz foi mastigar papel impresso. Idiota.
Podia estar ali a distrair-me com a fita. Depois finda a projeção,
instruir-me vendo as caras. Sou uma besta. Quando a realidade
me entra pelos olhos, o meu pequeno mundo desaba.

Graciliano Ramos
(Angústia)

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Venha ver o pôr-do-sol


Eis um trecho do texto Venha ver o pôr-do-sol, de Lygia Fagundes Telles. Simplesmente, fantástico!

Quem quiser conhecer o texto na íntegra, acesse:

http://www.scribd.com/doc/3377665/Telles-Lygia-Fagundes-Venha-ver-o-pordosol

Ricardo é um rapaz misterioso, cheio de idéias mórbidas. Achou de levar a namorada para ver o pôr-do-sol no cemitério. Lá chengando, Raquel estranhou a idéias, insultou-o de cretino, louco. Passearam po todo o loca, visitaram alguns túmulos. Mas, para ver o pôr-do-sol teria que ser sobre o túmulo da família de Ricardo, pois lá esva sua prima.

"- Cemitério abandonado, meu anjo. Vivos e mortos, desertam todos. Nem os fantasmas sobraram, olha aí como as criancinhas brincam sem medo - acrescentou apontando as crianças na sua ciranda.
Ela tragou lentamente. Soprou a fumaça na cara do companheiro.
- Ricardo e suas idéias. E agora? Qual é o programa?

Brandamente ele a tomou pela cintura.
- Conheço bem tudo isso, minha gente está enterrada aí. Vamos entrar um instante e te mostrarei o pôr-do-sol mais lindo do mundo.
Ele encarou-o um instante. Vergou a cabeça para trás numa risada.
- Ver o pôr-do-sol!... Ah, meu Deus... Fabuloso!... Me implora um último encontro, me atormenta dias seguidos, me faz vir de longa para esta buraqueira, só mais uma vez, só mais uma vez! E para quê? Para ver o pôr-do-sol num cemitério..."
(p.27)

"- Estou sem dinheiro, meu anjo, vê se entende.
- Mas eu pago.
- Com o dinheiro dele? Prefiro beber formicida. Escolhi esse passeio porque é de graça e muito descente, não pode haver um passeio mais descente, não concorda comigo? Até romântico.
Ela olhou em redor. Puxou o braço que ele apertava." (p.28)

"Ele esperou que ela chegasse quase a tocar o trinco da portinhola de ferro. Então deu uma volta à chave, arrancou-a da fechadura e saltou para trás.
- Ricardo, abre isto imediatamente! Vamos, imediatamente! - ordenou, torcendo o trinco. - Detesto este tipo de brincadeira, você sabe disso. Seu idiota! É no que dá seguir a cabeça de um idiota desses. Brincadeira estúpida!"
(p.33)

"Ele já não sorria. Estava sério, os olhos diminuindo. Em redor deles, reapareceram as rugazinhas abertas em leque.
- Boa noite, Raquel.
- Chega, Ricardo! Você vai me pagar!... - gritou ela, estendo os braços por entre as grades, tentando agarrá-lo. - Cretinho! Me dá a chave desta porcaria, vamos!"

"E, de repente, o grito medonho, inumano:
- NÃO!
Durantante algum tempo ele ainda ouviu os gritos que se multiplicaram, semelhantes aos de um animal sendo estraçalhado. Depois, os uivos foram ficando mais remotos, abafados como se viessem das profundezas da terra. Assim que atingiu o portão do cemitério, ele lançou ao poente um olhar mortiço. Ficou antento. Nenhum ouvido humano escutaria agora qualquer chamado. Acendeu um cigarro e foi descendo a ladeira. Crianças ao longe brincavam de roda." (p.34)

Poesia e Música



Lirismo que vem de lírica ... Cancioneiros, trovadores ... cantadores da vida e do amor!

Hj lembrei-me muito de uma pessoa muito especial em minha vida. A melnacolia tomou conta de mim. Queria voltar alguns anos e saborear mais um pouco sua presença, vovô!

Aos que também sentem saudade:

Nunca vi ninguém viver tão feliz
Como eu no sertão
Perto de uma mata e de um ribeirão
Deus e eu no sertão

Casa simplesinha, rede pra dormir
De noite um show no céu
Deito pra assistir
Deus e eu no sertão
Das horas não sei, mas vejo o clarão
Lá vou eu cuidar do chão
Trabalho cantando, a terra é a inspiração
Deus e eu no sertão

Não há solidão, tem festa lá na vila
Depois da missa vou, ver minha menina

De volta pra casa
Queima a lenha no fogão

E junto ao som da mata
Vou eu e um violão
Deus e eu no sertão...

(Victor Chaves)

Nostalgia

Ah! por que vindes me sorrir agora,
De meus campos natais doces lembranças,
E nest'alma, que em vão por eles chora,
Reavivar as mortas esperanças?
Por que me trazer à mente esmorecida
Miragens da ventura já perdida?...

(Bernardo Guimarães)

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O Pequeno Príncipe e a raposa - Cativar


É o trecho mais lindo que eu já li. ^^

E foi então que apareceu a raposa:
- Bom dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.
- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? Perguntou o principezinho. Tu és bem bonita...
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.
- Ah! Desculpa, disse o principezinho.
- Após uma reflexão, acrescentou:
- Que quer dizer “cativar”?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos d uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
...Mas a raposa voltou a sua idéia.
- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando tiveres me cativado. O trigo, que é dourado fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...
E a raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:
- Por favor... cativa-me! Disse ela.
- Bem quisera, disse o principezinho, mas não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
- Que é preciso fazer? Perguntou o principezinho.
- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mau-entendidos. Mas, a cada dia, te sentarás mais perto...
No dia seguinte o principezinho voltou.
- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração...É preciso ritos...
... Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
- Ah! Eu vou chorar.
- A culpa é tua, disse o principezinho, eu não queria te fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...
- Quis, disse a raposa.
- Mas tu vais chorar! Disse o principezinho.
- Vou, disse a raposa.
- Então, não sais lucrando nada!
- Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo.
Depois ela acrescentou:
- Vai rever as rosas. Tu compreenderás que a tua é única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te farei presente de um segredo.
Foi o principezinho rever as rosas:
- Vós não sois absolutamente iguais a minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativaste a ninguém. Sois como era minha raposa. Era uma igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo. Agora ela é única no mundo.
E as rosas estavam desapontadas.
- Sois belas, mas vazias, disse ele ainda. Não se pode morrer por vós. Minha rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é porém mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus sob uma redoma. Foi a ela que eu abriguei com o paravento. Foi dela que eu matei as larvas ( exceto duas ou três borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa.
E voltou, então, à raposa:
- Adeus, disse ele...
- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
-Foi o tempo que perdeste com a tua rosa que fez tua rosa tão importante.
-Foi o tempo que perdi com a minha rosa... repetiu o principezinho a fim de se lembrar.
- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não deve esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...
- eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.

Sinto-me responsável por todos aqueles que eu cativei, ou que me cativaram. Isso é fácil? Não. Por vezes deixo de cuidar bem de cada um, com carinho e atenção que merecem. Mas cada amigo é para mim algo inestimável. É a grande oportunidade de aprender e de crescer como pessoa.Há pessoas que são um equívoco, que talvez eu não soubesse cativar, ou que talvez eu reconhecesse nelas as minhas fraquezas e defeitos, e sendo assim eu descartei, deixei de lado de uma vez. Outras o tempo e espaço separaram, mas são como o trigo para mim, uma simples recordação me remete aos bons momentos juntos.Eu amo todos que me cercam. Gostaria que todos soubessem, caso eu não tenha dito. As palavras, às vezes ficam travadas em nossa garganta, simplesmente não saem. Mas quando me encontrar, saiba que é com um grande abraço que retribuirei tua amizade

Três palavras


Recebi essa crônica essa semana por e-mail, de Gorete Duarte, uma velha amiga ...
Li, reli, "treli" e voltei a ler e tentar perceber se realmente amo e sou amado.
Puxa, como as palavras tem um peso enorme em nossas vidas, que, em muitas situações, esquecemos e deixamos os atos de lado.
Quanto não diz um sorriso, um aperto de mão ... Tantas coisas, gestos passam despercebidos por falta de uma palavra!

"O cara diz que te ama, então tá! Ele te ama. Assunto encerrado. Você sabe que é amado porque lhe disseram isso, as três palavrinhas mágicas. Mas saber-se amado é uma coisa, sentir-se amado é outra, uma diferença de quilômetros. A demonstração de amor requer mais do que beijos, sexo e palavras. Sentir-se amado é sentir que a pessoa tem interesse real na sua vida, que zela pela sua felicidade, que se preocupa quando as coisas não estão dando certo, que coloca-se a postos para ouvir suas dúvidas e que dá uma sacudida em você quando for preciso. Ser amado é ver que ele(a) lembra de coisas que você contou dois anos atrás, e vê-lo(a) tentar reconciliar você com seu pai, é ver como ele(a) fica triste quando você está triste, e como sorri com delicadeza quando diz que você está fazendo uma tempestade em copo d'água. Sentem-se amados aqueles que perdoam um ao outro e que não transformam a mágoa em munição na hora da discussão. Sente-se amado aquele que se sente aceito, que se sente inteiro. Sente-se amado aquele que tem sua solidão respeitada, aquele que sabe que tudo pode ser dito e compreendido. Sente-se amado quem se sente seguro para ser exatamente como é, sem inventar um personagem para a relação, pois personagem nenhum se sustenta muito tempo. Sente-se amado quem não ofega, mas suspira; quem não levanta a voz, mas fala; quem não concorda, mas escuta. Agora, sente-se e escute: Eu te amo não diz tudo!"
(Arnaldo Jabor)

Poema enjoadinho

Apesar de ainda ser filho, ofereço a minha Mainha, a quem sinto tanta falta!

Filhos... Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-lo?
Se não os temos
Que de consulta
Quanto silêncio
Como os queremos!
Banho de mar
Diz que é um porrete...
Cônjuge voa
Transpõe o espaço
Engole água
Fica salgada
Se iodifica
Depois, que boa
Que morenaço
Que a esposa fica!
Resultado: filho.
E então começa
A aporrinhação:
Cocô está branco
Cocô está preto
Bebe amoníaco
Comeu botão.
Filhos? Filhos
Melhor não tê-los
Noites de insônia
Cãs prematuras
Prantos convulsos
Meu Deus, salvai-o!
Filhos são o demo
Melhor não tê-los...
Mas se não os temos
Como sabê-los?
Como saber
Que macieza
Nos seus cabelos
Que cheiro morno
Na sua carne
Que gosto doce
Na sua boca!
Chupam gilete
Bebem shampoo
Ateiam fogo
No quarteirão
Porém, que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!

(Vinícius de Moraes)


O texto acima foi extraído do livro "Antologia Poética", Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1960, pág. 195.

Via Láctea


O texto abaixo, do poeta parnasiano Olavo Bilac é uma das minhas preferidas. Só o fato de alguém ouvir estrelas já é fantástico. Fico a imginar a cena. Como seria? Que sons chegariam aos nossos ouvidos?

Acredito que o autor alcança o puro lirismo na última estrofe. Boa demais! "Só quem ama á capaz de ter ouvido capaz de ouvir estrelas!" ... Sensacional!
Que amor seria esse?
A que ele estaria disposto?
Até onde iria?

Perfeito ...

Leiam, sintam ... deixem comentários!

“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso! E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto,
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E ao vir do Sol, saudoso e em pranto
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Têm o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."

(Olavo Bilac)

Fogo Morto - José Lins do Rego


Fogo Morto

José Lindo do Rego

Texto produzido por Oscar D'Ambrosio*

Publicado em 1943, "Fogo Morto", é uma contundente visão do processo de mudanças sociais e econômicas do Nordeste brasileiro. O título refere-se à transformação do Engenho Santa Fé, localizado na zona da mata da Paraíba, de núcleo de poder econômico a pólo de miséria, com o apagar definitivo de suas fornalhas.

"Fogo morto" é a expressão utilizada no Nordeste para denunciar a inatividade de um engenho. A forma como José Lins conta esse processo ultrapassa a mera classificação geralmente dada ao livro de romance regionalista e o insere na tradição brasileira, que inclui "O Cortiço", de Aluísio de Azevedo, como narrativa que toma como protagonista não um personagem isolado, mas um local, no caso, o engenho decadente.

Estilo do Autor

Marcado por frases curtas, pela espontaneidade e oralidade, próprias do cotidiano, o estilo do autor já se faz presente em "Menino de Engenho", seu primeiro romance, de 1932, que lhe rendeu o Prêmio da Fundação Graça Aranha. Esse livro já integra o seu ciclo da cana-de-açúcar, completado ainda por "Doidinho" (1933), "Bangüê" (1934), "O Moleque Ricardo" (1935), "Usina" (1936) e o próprio "Fogo Morto" (1943).

O último romance dessa saga nordestina é dividido em três partes: "Mestre José Amaro", "O Engenho de Seu Lula" e "Capitão Vitorino Carneiro da Cunha". A primeira trata especificamente do seleiro homônimo. Cada vez mais ensimesmado e agressivo, é abandonado pela esposa, vê a filha enlouquecer e perde o emprego com a progressiva crise econômica. Solitário, suicida-se.

Engenho em declínio

A segunda focaliza o próprio Engenho Santa Fé. Inicialmente, há a prosperidade levada adiante pelo fundador, o capitão Tomás Cabral de Melo. Já o seu genro, Luís César de Holanda Chacon, o Seu Lula, mais aristocrático, religioso e extremamente preconceituoso em relação aos negros, conduz o empreendimento ao declínio.

O Capitão Vitorino é o centro das atenções na parte final. Compadre de mestre Amaro e ironizado até a segunda parte do livro, torna-se, no último terço, um Dom Quixote (alusão ao personagem de Miguel de Cervantes) do sertão nordestino, com todo um discurso em prol da justiça e da igualdade social, que desafia o poder dos latifundiários. Sonhava então em atingir o poder político e, mesmo sem possibilidades concretas de tornar esse desejo realidade, imagina-se em postos de comando, escolhendo assessores e recebendo aclamações da população.

Temos assim, a narrativa de três fracassos: o seleiro que dá fim à sua existência isolado, o engenho cujo fogo não é mais aceso e o sonhador que vive mergulhado em suas fantasias de atingir uma posição social que está, na prática, bem distante dele. Essas derrotas são narradas com vigor por um escritor que, como mostrou seu discurso de posse na ABL, nunca se preocupou em agradar ao poder, seja na esfera literária, econômica ou política.


Oscar D'Ambrosio, jornalista, mestre em Artes pelo Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Menino de engenho - José Lins do Rego



Essa obra de José Lins do Rego, nasceu da intenção de escrever a biografia de seu avô materno um patriarca do Nordeste. Mas o romancista soterrou o biógrafo, e a narrativa recaiu sobre a personagem Carlinhos, que, mesmo fictícia, vivencia cenas da infância do autor no mundo do canavial. Estruturada em 40 capítulos, relativamente curtos, é um dos ícones da literatura brasileira. Eis o motivo central dessa edição.


O romance enfoca os abalos das estruturas de uma sociedade rural aristocrática, latifundiária e escravocrata.

O universo complexo apresentado é o mundo de Carlinhos, o menino de engenho, que vai da pureza às deturpações de caráter, de uma realidade totalizadora a um destino individual. À semelhança de seus contemporâneos, a literatura de José Lins do Rego preocupa-se em revelar uma nova visão da realidade social, política e econômica do Brasil, em especial do Nordeste. O espelho das mazelas sociais é o elemento comum aos romancistas de 30, a segunda fase do modernismo brasileiro. O Romance de 30 apresentou dois caminhos nítidos: a prosa psicológica e a prosa regionalista - esta, por sua vez, subdividiu-se em ciclos; e José Lins do Rego é o criador do Ciclo da Cana-de-Açúcar.

Estilo de Época

A construção de Menino de Engenho se apóia em muitos aspectos do estilo predominante à época, o Modernismo. Fica evidenciado pelo enredo que se apresenta o apoio do romance na cultura brasileira. A trama se passa no típico engenho-de-açúcar nordestino, o ´Santa Rosa´, que constitui o cenário da construção do romance. Em torno dele se apresentam os costumes, as crendices, as superstições que refletem bem a nossa cultura.

O modernismo, como se sabe, exalta bem este nacionalismo, esta atmosfera brasileira, visível em todo o romance. Podemos ver no romance uma postura de um certo modo engajada, apesar da predominância no livro da idéia de evocação de uma infância marcada pela magia e o encanto da vida no engenho Santa Rosa.

De uma certa forma, o autor narra a miséria de forma degradante em que vivia o povo e mesmo, em breves momentos, o autoritarismo e a arrogância do Coronel Zé Paulino. A separação em castas é visível no romance, em que negros e trabalhadores compartilham de um regime de escravidão. A vida dos escravos, a senzala, o sofrimento e os castigos que os negros enfrentam no tronco são descritas pelo narrador de forma emotiva.

Um dos grandes momentos narrados na obra é a suntuosa ´enchente´ do rio, vista por Carlos com um misto de admiração e euforia, dando ares do dilúvio enfrentado por Moisés e sua arca na passagem bíblica. As crendices e superstições comuns nas camadas mais pobres dos Nordeste também são trazidas à tona pelo autor, como por exemplo, o aparecimento de lobisomem no Engenho ´Santa Rosa´ e arredores.

O folclore nordestino ganha destaque nas figuras da velha Totonha com suas histórias fantásticas e o cangaceiro Antonio Silvino e seu bando, pela importância que teve o cangaço à época no Nordeste. A alma brasileira fala com altivez neste romance ímpar, mostrando várias de suas peculiaridades. Importante observar que o estilo do autor mostra bem a forma espontânea, coloquial, com que estes contadores nordestinos são apresentados.

Foco Narrativo

O romance é narrado em primeira pessoa, pelo narrador-personagem Carlinhos, desenvolvendo-se em quarenta capítulos, realizando-se sob uma estrutura memorialista. Desse modo, o ponto de vista interno não só aproxima o narrador do leitor, implicando, assim, uma identificação entre essas duas instâncias, como, também, impregna, assim, o texto de intensa afetividade.

A opção por essa modalidade de foco narrativo entra em harmonia com o lirismo de que se reveste a narrativa. Narrador e leitor se aproximam do universo do feudalismo aristocrático, quando este ainda não havia sido engolido pelo capitalismo anônimo; mas o tom emotivo faz com que, de certa forma, o tom de denúncia e crítica social seja amainado, uma vez que a reconstrução desse tempo se dá sob a tessitura de saudosismo, de um talvez desejo em reviver tudo isso.

Tempo

O tempo, numa perspectiva simplista, é apresentado de forma cronológica: o narrador, o menino Carlinhos, tem quatro anos no início da narrativa, e está com doze anos, quando o livro termina. Entanto, Massaud Moisés, em ´Dicionário de termos literários´ (São Paulo: Cultrix, 1999, p. 453-454), chama-nos a atenção para o fato de o tempo, principalmente em termos de romance, ´provavelmente constitua o ingrediente mais complexo e o mais relevante: de certo modo, tudo no romance forceja por transformar-se em tempo, que seria, em última instância, o escopo magno do romancista.´

Nesse sentido, o ficcionista, tendo absoluto domínio sobre o tempo, pode acompanhar a personagem em toda a sua existência, mas tal expediente não exclui o haver do tempo psicológico, que se inscreve na narrativa quando o motivo textual são as volições da personagens, quando o que está em foco, portanto, é o mundo pastoso de sua subjetividade.

Espaço

O romance se passe na Zona da Mata nordestina, no Engenho Santa Rosa, onde praticamente acontecem todos os fatos marcantes do romance, na região que separa os estados de Pernambuco e Paraíba, dedução feita pelas transcrições das paisagens e das ocorrências, como a cheia do Rio Paraíba, e da vida dos engenhos de cana-de-açúcar.

Dentro deste espaço do engenho são descritos outros ambientes, como a senzala, a casa-grande, a cachoeira, o engenho Santa Fé, do coronel Lula de Holanda, entre outros de menor importância.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Uma galinha - Clarice Lispector


Uma Galinha

Clarice Lispector

Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não passava de nove horas da manhã.

Parecia calma. Desde sábado encolhera-se num canto da cozinha. Não olhava para ninguém, ninguém olhava para ela. Mesmo quando a escolheram, apalpando sua intimidade com indiferença, não souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se adivinharia nela um anseio.

Foi pois uma surpresa quando a viram abrir as asas de curto vôo, inchar o peito e, em dois ou três lances, alcançar a murada do terraço. Um instante ainda vacilou — o tempo da cozinheira dar um grito — e em breve estava no terraço do vizinho, de onde, em outro vôo desajeitado, alcançou um telhado. Lá ficou em adorno deslocado, hesitando ora num, ora noutro pé. A família foi chamada com urgência e consternada viu o almoço junto de uma chaminé. O dono da casa, lembrando-se da dupla necessidade de fazer esporadicamente algum esporte e de almoçar, vestiu radiante um calção de banho e resolveu seguir o itinerário da galinha: em pulos cautelosos alcançou o telhado onde esta, hesitante e trêmula, escolhia com urgência outro rumo. A perseguição tornou-se mais intensa. De telhado a telhado foi percorrido mais de um quarteirão da rua. Pouco afeita a uma luta mais selvagem pela vida, a galinha tinha que decidir por si mesma os caminhos a tomar, sem nenhum auxílio de sua raça. O rapaz, porém, era um caçador adormecido. E por mais ínfima que fosse a presa o grito de conquista havia soado.

Sozinha no mundo, sem pai nem mãe, ela corria, arfava, muda, concentrada. Às vezes, na fuga, pairava ofegante num beiral de telhado e enquanto o rapaz galgava outros com dificuldade tinha tempo de se refazer por um momento. E então parecia tão livre.

Estúpida, tímida e livre. Não vitoriosa como seria um galo em fuga. Que é que havia nas suas vísceras que fazia dela um ser? A galinha é um ser. É verdade que não se pode ria contar com ela para nada. Nem ela própria contava consigo, como o galo crê na sua crista. Sua única vantagem é que havia tantas galinhas que morrendo uma surgiria no mesmo instante outra tão igual como se fora a mesma.

Afinal, numa das vezes em que parou para gozar sua fuga, o rapaz alcançou-a. Entre gritos e penas, ela foi presa. Em seguida carregada em triunfo por uma asa através das telhas e pousada no chão da cozinha com certa violência. Ainda tonta, sacudiu-se um pouco, em cacarejos roucos e indecisos.

Foi então que aconteceu. De pura afobação a galinha pôs um ovo. Surpreendida, exausta. Talvez fosse prematuro. Mas logo depois, nascida que fora para a maternidade, pare cia uma velha mãe habituada. Sentou-se sobre o ovo e assim ficou, respirando, abotoando e desabotoando os olhos. Seu coração, tão pequeno num prato, solevava e abaixava as penas, enchendo de tepidez aquilo que nunca passaria de um ovo. Só a menina estava perto e assistiu a tudo estarrecida. Mal porém conseguiu desvencilhar-se do acontecimento, despregou-se do chão e saiu aos gritos:

— Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela pôs um ovo! ela quer o nosso bem!

Todos correram de novo à cozinha e rodearam mudos a jovem parturiente. Esquentando seu filho, esta não era nem suave nem arisca, nem alegre, nem triste, não era nada, era uma galinha. O que não sugeria nenhum sentimento especial. O pai, a mãe e a filha olhavam já há algum tempo, sem propriamente um pensamento qualquer. Nunca ninguém acariciou uma cabeça de galinha. O pai afinal decidiu-se com certa brusquidão:

— Se você mandar matar esta galinha nunca mais comerei galinha na minha vida!

— Eu também! jurou a menina com ardor. A mãe, cansada, deu de ombros.

Inconsciente da vida que lhe fora entregue, a galinha passou a morar com a família. A menina, de volta do colégio, jogava a pasta longe sem interromper a corrida para a cozinha. O pai de vez em quando ainda se lembrava: "E dizer que a obriguei a correr naquele estado!" A galinha tornara-se a rainha da casa. Todos, menos ela, o sabiam. Continuou entre a cozinha e o terraço dos fundos, usando suas duas capacidades: a de apatia e a do sobressalto.

Mas quando todos estavam quietos na casa e pareciam tê-la esquecido, enchia-se de uma pequena coragem, resquícios da grande fuga — e circulava pelo ladrilho, o corpo avançando atrás da cabeça, pausado como num campo, embora a pequena cabeça a traísse: mexendo-se rápida e vibrátil, com o velho susto de sua espécie já mecanizado.

Uma vez ou outra, sempre mais raramente, lembrava de novo a galinha que se recortara contra o ar à beira do telhado, prestes a anunciar. Nesses momentos enchia os pulmões com o ar impuro da cozinha e, se fosse dado às fêmeas cantar, ela não cantaria mas ficaria muito mais contente. Embora nem nesses instantes a expressão de sua vazia cabeça se alterasse. Na fuga, no descanso, quando deu à luz ou bicando milho — era uma cabeça de galinha, a mesma que fora desenhada no começo dos séculos.

Até que um dia mataram-na, comeram-na e passaram-se anos.

Texto extraído do livroLaços de Família”, Editora Rocco — Rio de Janeiro, 1998, pág. 30. Selecionado por Ítalo Moriconi, figura na publicação “Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século”.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

A última crônica - Fernando Sabino


"A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: "assim eu quereria o meu último poema". Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.

Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.

Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho - um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular. A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.

São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: "Parabéns pra você, parabéns pra você..." Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura - ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido - vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.

Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso."

Crônica publicada no livro "A Companheira de viagem" (Editora Record, 1965)

Jorge Amado - 3º Ano


Jorge Amado ...

Amado por todos os baianos e brasileiros.
Que veracidade!
Que realidade exposta em tuas obras!

Bahia nunca retratada igual ... Sem exagero, sem omissão!

Quem já não ouviu falar em Jorge Amado? Grande jornalista, romancista e memorialista brasileiro, nascido na Bahia no ano de 1912. Começou sua trajetória como escritor na adolescência, escrevendo uma redação, onde foi muito elogiado. Após isso sofreu varias turbulências em sua vida como prisões por motivos políticos, mesmo já sendo um escritor conhecido foi acusado injustamente por atos não cometidos, mas incrível que nessas prisões, cada vez ele se estimulava a escrever seus romances literários impressionando os críticos que muitas vezes afirmavam que Jorge Amado não era um escritor e sim um explorador do exotismo da Bahia, já que suas obras literárias refletiam somente no estilo baiano, na sensualidade de seu cenário, no humor e na sensualidade de seus personagens, mas mesmo assim se tornou um dos romancistas mais lidos no Brasil e no mundo no século XX.
Foi um dos fundadores da Academia dos Rebeldes. Jorge Amado era um verdadeiro conhecedor da alma brasileira. As obras literárias de Jorge Amado foram adaptadas para o cinema, radio, programas de TV e teatro onde fizeram o maior sucesso, deixando personagens inesquecíveis como Tieta do Agreste, Gabriela interpretada por Sonia Braga, também tivemos Dona Flor e seus dois maridos, Tenda dos Milagres, Tocaia Grande dentre outros de seus romances, onde era explorada a beleza da mulher brasileira, atenção especial para cheiros e sabores locais, o carinho pelo povo pobre da Bahia, pelos poderosos, além de costumes e da cultura baiana.

Mais informações sobre Jorge Amado, acessem:

http://www.brasilescola.com/literatura/jorge-amado.htm
http://www.fundacaojorgeamado.com.br/
http://www.scribd.com/doc/7173508/Jorge-Amado-Tieta-Do-Agreste

Textos Parnasianos - 2º Ano


As poesias parnasianas são muito conhecidas por sua forma de seguir os métodos clássicos de composição poética, como uma reação ao Romantismo.
Dessa forma, é interessante observar que a "arte pela arte", divulgada pelos ideais parnasianos apresenta a impessoalidade e o universalismo como característica recorrente.

Mas, será que vocês ainda lembram das regras de escansão, de rima, classificação de versos etc, que foi estudado durante o 1º ano?

Então, só pra reforçar um pouco a memória de vocês e para que estudem para um exercício em breve, lá vai:

1. As estrofes podem ser classificadas em: Monóstico, Dístico, Terceto, Quarteto, Quintilha, Sextilha, Sétima, Oitava, Nona e Décima. 2. Os versos podem apresentarem-se como: Monossílabos, Dissílabos, Trissílabos, Tetrassílabos, Redondilha menor, Heróico quebrado, Redondilha maior, Octossílabos, Eneassílabos, Decassílabos, Hendecassílabos e Alexandrinos. 3. Rima (quanto a posição): Externa e Interna. 4. Sons: Consoantes e Assonantes. 5. Rima (palavras rimadas): Rima rara, Rica rica ou Rima pobre.
Mais informações nesse site, super interessante:

http://br.geocities.com/varga_o_bruxo/epoet.htm


Alguns textos parnasianos. Comente-os, galera!

Sesta de Nero

Fulge de luz banhado, esplêndido e suntuoso,
O palácio imperial de pórfiro luzente
É marmor da Lacônia. O teto caprichoso
Mostra em prata incrustado, o nácar de Oriente.

Nero no trono ebúrneo estende-se indolente
Gemas em profusão no estágulo custoso
De ouro bordado vêem-se. O olhar deslumbra, ardente
Da púrpura da Trácia o brilho esplendoroso.

Formosa ancila canta. A aurilavrada lira
Em suas mãos soluça. Os ares perfumando,
Arde a mirra da Arábia em recendente pira.

Formas quebram, dançando, escravas em coréia.
E Nero dorme e sonha, a fronte reclinando
Nos alvos seios nus da lúbrica Pompéia."

(Olavo Bilac)


Vaso Grego


Esta, de áureos relevos, trabalhada
De divas mãos, brilhante copa, um dia,
Já de os deuses servir como cansada,
Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.

Era o poeta de Teos que a suspendia
Então e, ora repleta ora esvaziada,
A taça amiga aos dedos seus tinia
Toda de roxas pétalas colmada.

Depois... Mas o lavor da taça admira,
Toca-a, e, do ouvido aproximando-a, às bordas
Finas há de lhe ouvir, canora e doce,

Ignota voz, qual se de antiga lira
Fosse a encantada música das cordas,
Qual se essa a voz de Anacreonte fosse.

(Alberto de Oliveira)

Mais informações sobre o Parnasianismo:
http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/parnasianismo/parnasianismo.php

http://www.graudez.com.br/literatura/parnasianismo.html


Literatura de Informação - 1º ano


A LITERATURA DE INFORMAÇÃO

Durante o século XVI , sobretudo a partir da 2a. metade , as terras então recém-descobertas despertaram muito interesse nos europeus . Entre os comerciantes e militares , havia aqueles que vinham para conhecer e dar notícias sobre essas novas terras , como o escrivão Pero Vaz de Caminha.

Os textos produzidos eram , de modo geral , ufanistas¹ , exagerando as qualidades da terra , as possibilidades de negócios e a facilidade de enriquecimento . Alguns mais realistas deixavam transparecer as enormes dificuldades locais , como locomoção , transporte , comunicação e orientação .

O envolvimento emocional dos autores com os aspectos sociais e humanos da nova terra era praticamente nulo . E nem podia ser diferente , uma vez que esses autores não tinham qualquer conhecimento sobre a cultura dos povos silvícolas² . Parece ser inclusive exagerado considerar tais textos como produções literárias , mas a tradição crítica consagrou assim .

Seguem alguns trechos da famosa Carta que Pero Vaz de Caminha enviou ao Rei D. Manuel de Portugal , por ocasião da descoberta do Brasil .

"E neste dia , a hora de véspera , houvemos vista de terra , isto é principalmente d'um grande monte , mui alto e redondo , e d'outras serras mais baixas a sul dele de terra chã com grandes arvoredos , ao qual monte alto o capitão pôs nome o Monte Pascoal e à Terra de Vera Cruz .

A feição deles é serem pardos , maneira d'avermelhados , de bons narizes , bem feitos . Andam nus , sem nenhuma cobertura , nem estimam nenhuma cousa cobrir nem mostrar suas vergonhas . E estão acerca disso com tanta inocência como têm em mostrar o rosto .

Os outros dois , que o capitão teve nas naus , a quem deu o que já dito é , nunca aqui mais apareceram , de que tiro ser gente bestial e de pouco saber e por isso assim esquivos . Eles , porém , com tudo , andam muito bem curados e muito limpos e naquilo me aprece ainda mais que são como aves ou alimárias monteses que lhes faz o ar melhor pena e melhor cabelo que às mansas , porque os corpos seus são tão limpos e tão gordos e tão formosos , que não pode mais ser . E isto me fez presumir que não têm casas em moradas em que se acolham . E o ar , a que se criam , os faz tais . "


1. atitude ou posição tomada por determinados grupos que enaltecem o potencial brasileiro, suas belezas naturais, riquezas e potenciais.

2. índio, aborígene, habitante primitivo do país

domingo, 30 de agosto de 2009

Novo acordo ortográfico


As novas regras ortográficas já estão em vigor.
Se ligue para não sair em branco ...

Acesse esse link que você pode baixar as novas regras e estudar em casa mesmo:

http://educacao.ig.com.br/acordo_ortografico/

Ontem, pediram para eu ler esse texto. Fantástico! Compartilho com vocês e deixem seus comentários!

Lembrem-se que a leitura é o alimento da alma!

^^


FELICIDADE CLANDESTINA

Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria.

Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como "data natalícia" e "saudade".

Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia.

Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim um tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E, completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.

Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança de alegria: eu não vivia, nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.

No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.

Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono da livraria era tranqüilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do "dia seguinte" com ela ia se repetir com meu coração batendo.

E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.

Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.

Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!

E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: "E você fica com o livro por quanto tempo quiser." Entendem? Valia mais do que me dar o livro: "pelo tempo que eu quisesse" é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.

Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.

Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre ia ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.

Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.

Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.

(Clarice Lispector. In: "Felicidade Clandestina" - Ed. Rocco - Rio de Janeiro, 1998)

sábado, 29 de agosto de 2009

Reflexão


Colher no raro jardim, a flor ao seu lado,
Ser hoje chão alado
Sutilizar no futuro, dar força mesmo cansado.

(Helder Santos - professor)

http://www.escrevipravoce.blogspot.com/
Língua Portuguesa

6º Ano - Artigo

O artigo é a palavra variável em número e gênero que acompanha o substantivo.
É importante perceber que toda palavra precedida de artigo, torna-se um substantivo.

Definidos: o, a, os, as (definida)
Indefinidos: um, uma, uns, umas (genérica)

Questões de reflexão:

Por que variável?

7º Ano - Termos essenciais da Oração

São chamados de essenciais, pois são os mais importantes na construção de uma frase.
Dividem-se em sujeito (refere-se a um ser e nunca tem verbo) e predicado (diz algo sobre o ser, acompanhado de verbo).

Sujeito simples: apresenta um núcleo (representado por substantivo ou pronome)
Maria lavou os pratos.

Sujeito composto: apresenta mais de um núcleo.
Maria e José lavaram a calçada.

Sujeito desinencial: existe na oração, porém não está concretizado por palavras, e sim, pela desinência verbal.
Saí de casa cedo.

Quem saiu de casa cedo?
Eu - sujeito desinencial.

Sujeito Indeterminado: verbo na 3ª pessoa do plural, onde sabemos que a ação foi realizada por alguém, que não conseguimos identificar.
Saíram de casa.

Sujeito Inexistente: oração formada por verbos que indicam ação da natureza, verbo haver no sentido de existir entre outros.
Choveu muito ontem pela manhã.
Turmas de Literatura - importante ler:

http://www.brasilescola.com/literatura/para-que-serve-a-literatura.htm

Literatura Brasileira

1º ANO - Quinhentismo

O Quinhentismo acontece no Brasil de 1500 a 1601, portanto, século XVI. Esse é o período que corresponde às grandes navegações europeias e, posteriormente, a "descoberta do Brasil".
Essa literatura acontece no Brasil, porém não é genuinamente brasileira. São escritos portugueses que correspondem às impressões brasileiras. Costuma-se dividir tal período em:
a) Literatura informativa: presença marcante da Carta de Pero vaz de Caminha. Geralmente, são descrições sobre o Brasil e os índios sobre as condições do "quintal da casa" de Portugal.
b) Literatura dos Jesuítas: Pe. José de Anchieta é o principal representante. Faz parte da literatura jesuíta os Sermões e tom doutrinário e catequético. Tinha a função de divulgar o Cristianismo entre os índios, além do grande teor pedagógico e moral.

Leituras importantes:

Sermões, de Pe. José de Anchieta.
Carta, de Pero Vaz de Caminha.

2º Ano - Parnasianismo

O Parnasianismo é uma escola literária de reação aos modelos de prosa realisa e naturalista. Portanto, é um movimento predominantemente poético.
Surge na França, através de Theofile Gauthier, pregando a "arte pela arte".

Tipo ... É aquele tipo de poesia "certinha", apresentando características como:
o culto pela forma,
objetividade,
impessoalidade e
um tom superficial filosófico.

No Brasil, temos como principal representante Olavo Bilac.

O que acham desse trecho de Profissão de Fé?

E horas sem conta passo, mudo,
O olhar atento,
A trabalhar, longe de tudo
O pensamento.

Porque o escrever – tanta perícia
Tanta requer,
Que ofício tal... nem há notícia
De outro qualquer.

Assim procedo. Minha pena
Segue esta norma,
Por servir-te, Deusa serena,
Serena Forma!

Existem várias maneiras de fazer poesia. Não esqueçam que a poesia, em sua essência, vem da música. Se você gosta de música, com certeza, gostará também de poesia.

Conheça, leia antes de criticar!

Vale a pena visitar: http://www.curtapoesia.blogspot.com/

3º Ano - Jorge Amado

Os textos de Jorge Amado, escritor da 3ª fase modernista (prosa) representam a vez e a voz dos marginalizados, principalmente da Bahia.
Outro dia, lendo pela net, achei isso sobre a obra de Jorge Amado, bastante interessante:

Entrem aeh: http://www.brasilescola.com/literatura/tenda-dos-milagres.htm

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E lembrem-se: Quando tudo tiver difícil, o que é melhor a fazer?
Continue a nadar!

rsrsrsrs

Jp:)

Editorial ^^


Bom, fazendo este blog para auxiliar meus alunos em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira. Divirtam-se! Postem! Comentem! Aculturem-se!

^^

"Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato. Ou toca, ou não toca."
(Clarice Lispector)